"..não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. eu sou uma cadeira e duas maçãs.." Clarice L.

02/01/2010

O Vento


Pois o vento se vê? Ou se sente? Como perceber sua passagem, sua existência, por assim dizer... De que outra forma poderia ser, a não ser pelas suas revoltas? Pelo balanço das palmeiras ou pelo uivo de seu grito de agonia? O vento é invisível e, no entanto, impõe sua presença, se mostra existente. Passa pela cortina do meu quarto, arrepia minha cútis, bagunça meus cabelos. Mostra-se revoltado por ninguém enxergá-lo, por não percebe-lo. Mas é isso, quem ainda não se acostumou? Assim é a vida, assim é o tempo, que como o vento, passa sem ser notado e deixa como resquício um arrepio, seja de medo, seja de surpresa. O vento, que quando em brisa agrada e acalma, mas em tempestade bagunça e acanha. Que quando em verão refresca, mas em inverno trinca os dentes. Que quando em vida traz um sorriso, olhos fechados e braços abertos. Mas em morte, enxuga a lágrima e leva embora a última folha seca. Pessoas também soam como o vento: socialmente invisíveis. Também podem trazer sorrisos ou enxugar lágrimas, avalia-se a relevância. Quem nunca se sentiu invisível, e como o vento, revoltou-se para se fazer notado? Quem nunca arrepiou alguém, bagunçou o cabelo e a vida de alguém?
Quem nunca gritou de agonia...?
Todo homem já foi vento um dia, e, um dia, voltará a sê-lo.

3 comentários:

  1. bonito texto...continue escrevendo...to te seguindo!

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  2. Estou encantada! Esse é seu melhor post. Parabéns. Eu simlpesmente amei, estou sem palavras.

    Beijos Fernando! Continue assim! :)

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