"..não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. eu sou uma cadeira e duas maçãs.." Clarice L.

13/04/2010

Um guarda-chuva, um sorriso....


Por Neto Menezes. 12/04/2010

       
  Chovia e fazia frio naquela tarde, mas insisti em sair. Precisava passar um tempo sozinho, numa conversa sincera comigo mesmo... Peguei um ônibus (gosto de andar de ônibus, ver a cidade passar pela janela, observar a vida lá fora). Não olhei o letreiro luminoso, não importava para aonde iria.
           Pensava no que havia feito da vida (ou o que não havia feito) e se ela fazia algum sentido, tentava obter a resposta que procurava. Entretanto, algo me dizia que hoje encontraria não só respostas, mas novos sentidos... As gotas da chuva batiam no vidro da janela e reparei que pareciam tristes. Então eu era gotas de chuva naquele momento... Deslizando, descendo, descendo... Eu me afogava em gotas...
           Num súbito de loucura ou lucidez, não saberia explicar, puxei a corda do ônibus e da minha urgência e desci... Precisava sentir a chuva, compartilhar daquela tristeza nossa, sorver em goles sedentos dessas gotas, dessas lágrimas... Fiquei alguns minutos parado no meio da rua. Braços abertos, olhos fechados, língua de fora, apenas ouvindo a chuva e meus suspiros entrecortados.
            Foi quando me dei conta de mais alguém compartilhando daquele momento só meu... A princípio não gostei da idéia, mas assim que abaixei os braços e virei a cabeça, nunca houve incômodo. Olhando do outro lado da rua, um guarda-chuva vermelho, os lábios de mesma cor, e por entre eles irradiavam ondas de luz, ela era linda e sorria para mim; retribui o sorriso, (embora tenha certeza de que não foi a altura) e andei em sua direção. Para minha surpresa, sua mão me convida para dividirmos o guarda-chuva. Aceitei e caminhei ao lado dela sem destino certo. Apenas andávamos...
             Quis saber o que ela fazia na chuva, e sorrindo disse que gostava de se perder entre aquela imensidão de gotas e olhar como tudo ficava molhado e triste. Lembrei-me neste instante do motivo de estar ali também. Nós vibrávamos em uma freqüência tão igual, que ao final de alguns minutos (ou horas), era como se fôssemos amigos de muitos dias de chuva atrás.
              Escurecia quando ela disse que precisava ir. Agradeceu com um sorriso enorme no rosto e aquelas ondas de luz pela tarde que passamos juntos e confessou que ao sair de casa levava a certeza de não voltar mais, queria sumir, desaparecer. Eu a havia feito mudar de idéia com meu gesto bobo de abrir os braços e provar da chuva no meio da rua. Ela percebeu que, apesar de todos os seus problemas (que fiz questão de não perguntar quais eram) havia alguma coisa pela qual lutar.
              Eu lhe devolvi à vida.
              Ela me devolveu a vida.
              Resolvi não mostrar meu fracasso como eu mesmo e não contei que passava pela mesma situação. Seria covardia, e o sorriso que ela me deu fez com que eu visse a vida de forma diferente. Fico feliz por não ter dividido isso com ela, embora tenha sido extremamente egoísta de minha parte. Não que estivesse envergonhado ou que não confiasse nela. Mas como dizer que ao sorrir pra mim, ela secou todas as gotas, todas as lágrimas que encharcavam as minhas roupas e minha alma? Queria dizer... 
              Despedimo-nos em um ponto de ônibus e ela novamente me inundou de luz e doçura, me deu aquele mesmo sorriso que me fez tão bem. Meu ônibus havia chegado (agora eu conferi o letreiro, sabia meu destino), entrei e sentei ainda molhado na parte do fundo. O rádio portátil do motorista chiava baixinho, mas suficientemente audível “I’ll stand by you”, de Rod Stewart. Sorri para meu reflexo no vidro molhado e fechei os olhos... Seria apenas uma ironia do destino?
              No final da rua quando resolvi olhar pela janela. Parada no meio da rua, com os braços abertos e o guarda-chuva ao chão, deixando a chuva deslizar pelo seu corpo, o cabelo molhado e grudado no rosto, a língua pra fora. Exatamente como ela havia me visto fazer horas antes. Gargalhei alto do meu banco e atraí atenção de outras pessoas. Não me importei. Agora sabia: conhecer o sentido de tudo isso aqui é bobagem, o que importa é a vontade que eu tenho em sempre buscar respostas por mais inexistentes que sejam! E se por acaso não houver mais respostas, ir atrás de novas perguntas. Porque a vida é um ciclo insano, sem sentido algum e incrivelmente desafiador!
Pela primeira vez na vida, eu acreditei na felicidade.
A felicidade é um guarda-chuva, um sorriso...

11/04/2010

O medo da mudança

Por Gui Cury, (o post na íntegra, aqui)



"...Você está vendo essa imagem? Isso é como funciona o pensamento coletivo. As pessoas ficam apertadas nos mesmos pensamentos e vão vivendo assim. É conveniente!  E quando um resolve pular para um ambiente melhor, com mais espaço para pensar novas coisas e onde ele possa se destacar mais, os outros ficam bravos! Sim, aqueles peixinhos apertados dariam tudo para estar lá! Mas é tão difícil dar o salto, não? Pior ainda é reconhecer aquele que teve coragem de fazê-lo.

E assim é com tudo na vida, comecem a reparar…"

*
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 .... ainda bem, sempre tive um aquário bastante grande...

Não posso

O que aqui segue não é meu, mas é como se fosse.
É de um amigo que escreve pra si, um auto desabafo.
Segue uma linha simples e preza por uma adoração idealizada, numa mescla com a platonicidade...
Enfim, aqui vai :

Queria falar com você
tudo o que sinto
e abrir meu coração
mas não posso
já que não me ouve

Queria poder te abraçar
sentir seu calor
te beijar loucamente
mas não posso
poque você se afasta de mim

Queria ser dono do teu coração
e enchê-lo de amor e de tudo
que mais verdadeiro possa existir
mas não posso
porque outro nele habita

Queria chamar sua atenção
mostar que sempre estive aqui
que ao seu lado é meu lugar
mas não posso
porque sou invisível para você

A única coisa que posso fazer
por enquanto é continuar
a te amar e mentir para mim mesmo
nos meus sonhos onde você
pode ser minha todas as noites

N.M., em 17/07/2006

10/04/2010

Afterglow



 

"...Toque-me e eu te seguirei pelo seu crepúsculo...
Cure-me de toda esta tristeza!
Enquanto te deixo partir,
eu encontrarei meu caminho quando vir seus olhos...
Agora estou vivendo no seu crepúsculo..."


*

*

E ouvindo INXS, anoiteceu em mim...


Meu barco

Não me diga quem eu sou.
Eu sou o que quero ser, e não o que você determina!
Por isso engula seus pregos tortos
E deixe-me construir meu barco...


Deixa-me navegar dentro de mim
Afundar nas águas irresolutas,
Gritar para a tempestade,
Lutar contra as ondas...


Portanto não me diga quem eu sou!
Ou pra qual lado é o norte de minha bússola
Porque só eu conheço minhas direções,
Só eu conheço o turvo do meu mar

09/04/2010

Anne Rice



"… E eu a via doce e palpável à minha frente, uma criatura frágil e preciosa que logo envelheceria, logo morreria, logo perderia aqueles momentos que, em sua intangibilidade, nos prometem, erradamente... erradamente, uma imortalidade. Como se fosse o nosso próprio direito de nascer, do qual não conseguimos captar o sentido até chegarmos à meia idade, quando temos pela frente o mesmo número de anos pelo qual já passamos e que já ficaram para trás. Quando cada momento deveria ser o primeiro vivido e assim apreciado..."

(Entrevista com o Vampiro)