"..não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. eu sou uma cadeira e duas maçãs.." Clarice L.

06/02/2010

Gargalhe!

Estamos a cento e oitenta quilômetros... E é liberdade, e não medo, que domina cada célula... O vento leva à força qualquer frustração que pudéssemos ter. O mais consciente sentido é o das nossas mãos grudadas entre os bancos. Frias e suadas, mas firmes... Porque não basta fechar os olhos e saborear o vento. É preciso fazer com que lágrimas voem... E tem que se fazer isso com quem mais se ama. E, embora sozinho, ela está ali. As mãos firmes. Os olhos firmes nele. E os olhos dele firmes no fim da estrada. O volante treme loucamente sob a outra mão. O acelerador recusa-se a ir mais fundo. O motor esquenta e urra sob os bancos. As rodas fumegam e flutuam no betume da pista. Tudo pronto, só o vento agora. Quase a duzentos e dez... Fecham os olhos. Suspiram. Gargalham alto. E um reconhecimento do que está por vir transborda silenciosamente de seus olhos. Mas gargalham com vontade, como nunca antes se sentiram capazes de fazer. Sentiam-se plenos e felizes, por fim. Porque embora condenados, é uma felicidade insana que traduz o que sentem agora. Insanidade.
E gargalhavam.
Gargalhavam a ponto de ouvi-la acima do chiado violento dos pneus queimando e do vento em seus ouvidos. Mas então, sem mais estrada, gargalham só ao vento. Mas eles ainda gargalham... E gargalhavam quando o carro voou.
E gargalhavam quando o frio na barriga anunciava a descida
E gargalhavam quando o carro pousou, e quando viraram fuligem...
Mas depois da explosão, não gargalhavam mais. Somente suas mãos ainda eram firmes.
Mas quer saber?
Algo me diz que eles, embora em mil pedaços, ainda consigam exibir em meios sorrisos a felicidade que nunca tiveram quando inteiros.

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