"..não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. eu sou uma cadeira e duas maçãs.." Clarice L.

25/03/2010

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Talvez os olhos quisessem dizer outra coisa, mas como ele iria saber?. Sabe como é, não se ensina por aí como ler olhos. Era só uma vaga impressão de que quando a boca dizia ‘não’, os olhos sussurravam questionadores ‘não...?’. Mas como terminar a palavra e fazer possível entender, por mais que o tom de voz não o fornecesse pistas, que ali existe uma hesitação? Uma interrogação que grita eloqüentemente, berra aos ventos: ‘EU SOU UMA DÚVIDA, EU EXISTO’. Parece mínimo, mas é árduo desentortar interrogações, transformá-las em exclamações (!).

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E se não houvesse mais dúvidas? E se tudo o que fosse dito (principalmente pelos olhos) fossem exclamativas efusivas e taxativas? Se fossemos todos tão exclamativos, nada interrogativos, talvez o amor tivesse menos chances, talvez não existisse mais protestos, greves, interesses, conversas iniciadas, dúvidas esclarecidas, conhecimentos adquiridos, amores difundidos... E cada vez menos decisões bem pensadas. Talvez simplesmente não existisse.. Numa existência sem dúvidas, sem questionamentos, uma simples parte do não-existe.

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Talvez as pessoas se preocupassem menos em ler olhos, e o não seria definitivo. Talvez ele acreditasse no não dela, talvez até ela passasse a acreditar no próprio não. Talvez a vida fosse sem graça sem ela, sem a casa no campo e dias preenchidos por nada, só pelo amor selvagem e doce.

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Se não existissem interrogações, talvez ‘não’ fosse o ponto final de histórias magníficas.

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