"..não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. eu sou uma cadeira e duas maçãs.." Clarice L.

30/01/2010

Sonhos de Areia

Da areia dessa praia, dessas ondas, o mar me ensina sobre sonhos. Meu castelo de areia não é forte, mas o construí mesmo assim... E eu estava feliz! Reergui todos os grãos de areia necessários. Mas ondas vieram, destruíram-no... Como numa afronta à minha felicidade!
E ali, onde o construí, era como se nunca o tivesse feito. Nem indícios, tudo limpo, atormentadoramente limpo... O mar debocha de minhas lágrimas doces, só porque as suas são salgadas... E mostra que por mais forte que meu castelo seja, alguma onda estará disposta a dissipar cada grão de sonho....
Foi tão difícil juntar todas aquelas partículas de areia, tão difícil amontoá-las, organizar em forma de fortaleza medieval. E agora tudo o que resta é minha vontade de reconstrui-lo. Mas dessa vez não.
Estou cansado.
Sansado de reconstruir meus castelos, meus sonhos. Vou deitar onde as ondas me alcancem. Talvez elas desintegrem todos os meus grãos também. Talvez até me levem até os meus castelos de areia. E nunca mais serei forçado a construir outro... Poderei, por fim, lamentar meus castelos destruídos. Queixar-se ao mar por levar pra sempre meus sonhos, espalhando cada grão na sua imensidão azul.
Fazendo-me sentir tão destruído quanto cada castelo que eu construí...

Canção

Eu só queria mais uma canção de amor! Deixa continuar tocando, só mais uma, querida! Porque quando a música acaba, eu chego ao fim também! Interrompo meus devaneios, desfaço meu sorriso bobo... É... Aquele sorriso que eu sempre faço quando você me pede mais um beijo... Portanto, não interrompa minha canção, por favor. Deixa o compasso do meu coração ritmar-se com o da nossa música, mesmo que numa velocidade mínima, não importa.O que importa é deixá-la tocar, sempre! Não se canse de ouvi-la, não se canse! Promete que nunca vai se cansar da minha canção? É que eu só tenho essa, é a única que eu conheço. É a única que combina com a gente, única que eu sei a letra de cor É a única que quando canto, não desafino... Então, por favor...
Não aperte o ‘stop’...

27/01/2010

Sobre mim

Nada do que eu disser aqui diz algo sobre mim. Como você pode me definir, se nem eu consigo tal proeza? Apenas saiba: abomino seus rótulos. Eu quero viver e minha regra é fazer o que me der vontade e dizer o que eu penso, não muito preocupado em te agradar ou não. Não quer ouvir a verdade? a verdade dói? então não me pergunte. Não vou mentir pra agradar, nem ser eufêmico. As coisas devem ser vistas como elas são, nuas e cruas. É doloroso, mas há algo que não acabe sendo assim, no final? Moralismo, honestidade, pureza intensa e sempre boas intenções são coisas nas quais não acredito. Ninguém é bonzinho por inteiro, por mais que se faça parecer assim. Detesto os mocinhos, sou fã dos vilões. Perco pessoas o tempo inteiro, encontro pessoas o tempo inteiro. Sou eu, desta forma, com esses defeitos. Todo mundo tem uma parte podre, quem sou eu pra não tê-la?

25/01/2010

Nuvem Negra

Nuvem negra sobre mim
Chove e queima
Ameaça, abraça
Conforta o ilegível

Nuvem negra me acalma
Derrama-me água escura
Lava a alma
Leva embora água clara

Nuvem negra não vá
Fica aqui, me ama
Satura minha alma de dor
De sonho e horror

Nuvem negra me adora
Limpa o sangue dos meus olhos
Livra o coração
Faz-me sentir o buraco
Que a vida deixou no meu peito

Fim




E quanto mais fujo,
Mais inevitável parece
Deve estar marcado, não sei
Devo estar atrasado...

Esse vento que seca minhas lágrimas
É o mesmo dissipa o efeito do whisky
E tudo parece tão óbvio agora
É só se deixar cair...

Mas é tão alto daqui de cima
Vai doer? Vai ser rápido?
Eu conseguiria apagar antes de chegar?
Porque tão covarde agora?

Seria a dor do impacto maior
Que a dor das batidas do meu coração?
Duvido. Nada pode doer mais
Mais um gole, dois.

Grama molhada nos pés
E um conforto que só o fim dá
A total falta de roupas me dá frio
Mas eu sabia que não era por isso

Mais goles, muitos
O vento canta e empurra
Tentando encorajar-me
Mas eu não preciso mais de coragem

Suspiro agora,
encho o peito e solto devagar
E uma linha molhada na bochecha
anuncia o momento.

Mais um trago,
mais um gole.
E, de braços abertos,
eu me jogo de encontro à paz


Não me Cure


Porque isso, meu amor, são mais que flores e som de saxofone. Pode até ser mais um de meus lamentos. Mas é muito mais que palavras, mais que lágrimas. E eu não me importo se você achar que tudo não passa de um show bem ensaiado. Realmente não ligo. Porque sou eu o conhecedor de minhas feridas, de minhas dores. Eu sei exatamente onde tocar e, principalmente, onde não tocar. Sei onde dói, e sei que sou fraco demais pra deixar você saber onde os machucados estão. Por isso eu sorrio. E eu te engano tão bem... Não preciso que você saiba. E não me venha com seus cuidados, eu não preciso deles. Não sei se me quero sentir curado. Seria justo? Seria ignorar todo o amor, toda a perda. Seria jogar fora uma rosa murcha, só porque não encanta mais os olhos de ninguém, e nem desprende de si o aroma doce de outrora. Não pra mim, é claro. Pra mim ela parece a mais vermelha das rosas, e o mais fresco cheiro de alma e luz. Minhas feridas não me fazem mal. Só me faz achar o resto irrelevante e fútil. Eu não preciso que você olhe pra mim com olhos penosos. Não sou vítima. E sinto muito se você acha que não sou feliz. Não preciso ser feliz.

Na verdade, eu nunca fui tão feliz na minha dor...

Porque é essa dor que me fará lembrá-la para sempre...


07/01/2010

A Verdade do Espelho


Olha pro espelho,

Esse rosto pálido

Essa boca crispada

Essa tristeza mal-disfarçada



Sorri para o mundo

Num deboche soberbo

De indiferença e escárnio

E olhos cheios de verdade



Tu já não serves à máscara

Feita sob medida,

A mentira agora é podre

Deixou cheiro de horror



Da têmpora escorre o verde,

Que coloria a tua esperança

E chega aos pés,

Negro como o próprio sangue morto

E essa tristeza louca



Que escorre a jato dos olhos...

Como correnteza,

Vingativa e transitória



Olha pro espelho!

Vê o que não te dizem...

Mas que verdade é essa

Que o espelho conta?

05/01/2010

Caim



“...A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com Deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele..."




“... bastaria que por um momento abandonasses a soberba da infalibilidade que partilhas com todos os outros deuses, bastaria que por um momento fosses realmente misericordioso, que aceitasses a minha oferenda com humildade...”



José Saramago

03/01/2010

Visita

O sono não chega. Sente a alma cansada, pedindo paz e descanso.
O corpo permanece alerta. Tudo que vê é a parede branca para qual está virado. Deitado, sente a brisa se enroscar nos seus pés, e sente frio.
Está mais claro agora, mas não pode ser o sol.
É muito cedo para ser o sol.
E se fosse, soaria nesse tom?
Devagar, vira a cabeça.
E então esse clarão absurdo faz fechar os olhos.
De olhos fechados, agora sente algo dentro de si.
Algo que parece inflar e rasgar seus pulmões, costelas e músculos.
Algo chamado saudade - aquela saudade...
Respira fundo, e sente aquele cheiro e aquela lembrança...
Cheiro de banho recém-tomado e rosas orvalhadas.
Suas bochechas estão molhadas, agora.
E desse momento sublime, desprende-se a lágrima tão esforçadamente presa.
Lágrima tão bem escondida, todos os dias. Tão bem disfarçada por um sorriso convincente.
Abre um milímetro de suas pálpebras. A luz agora é menor.
Algo na frente, algo querendo ser visto.
Algo que se resume em amor – aquele amor perdido -, luz e pureza...
Algo que lhe foi tirado, mandado pra longe.
Quer chegar perto, mas está estático.
Agora, seus pés estão molhados...
Uma mão estendida – aquela mão - e um conforto supremo o acalmam,
E uma voz, que antes parecia tão distante e morta, soa cheia de melodia e divindade:
- Eu estou aqui
- Não me deixe nunca – sussurra.
Epílogo: Tudo durou apenas um minuto, mas foi o suficiente para abastecer de conformidade toda a vida dele... E para torná-la eternamente viva.

Fernando Franco Filho

Renúncia

Oh, perpétuo desconforto
Descabimento do mundo
Que caça o decoro
Como a treva caça a criatura
E traz à alma,
O fel da existência inoportuna

Oh, suprema pseudestesia
Desumana, por fim,
Esse âmago enfadonho
Pleno do mal do mundo
E consciencioso do seu próprio

Oh, imperdoável consumição
Ao propriíssimo, sim
É que a sórdida morbidez
Deve abrir as chagas
Da afronta, da dissimilitude

Oh, evanescente pureza
Leva consigo a desventura
E este ódio dilatado
Que já punge o haver
E tritura a exígua benevolência.

Fernando Franco Filho

Obs.: mais uma de minha coleção de poemas mórbidos

02/01/2010

O Vento


Pois o vento se vê? Ou se sente? Como perceber sua passagem, sua existência, por assim dizer... De que outra forma poderia ser, a não ser pelas suas revoltas? Pelo balanço das palmeiras ou pelo uivo de seu grito de agonia? O vento é invisível e, no entanto, impõe sua presença, se mostra existente. Passa pela cortina do meu quarto, arrepia minha cútis, bagunça meus cabelos. Mostra-se revoltado por ninguém enxergá-lo, por não percebe-lo. Mas é isso, quem ainda não se acostumou? Assim é a vida, assim é o tempo, que como o vento, passa sem ser notado e deixa como resquício um arrepio, seja de medo, seja de surpresa. O vento, que quando em brisa agrada e acalma, mas em tempestade bagunça e acanha. Que quando em verão refresca, mas em inverno trinca os dentes. Que quando em vida traz um sorriso, olhos fechados e braços abertos. Mas em morte, enxuga a lágrima e leva embora a última folha seca. Pessoas também soam como o vento: socialmente invisíveis. Também podem trazer sorrisos ou enxugar lágrimas, avalia-se a relevância. Quem nunca se sentiu invisível, e como o vento, revoltou-se para se fazer notado? Quem nunca arrepiou alguém, bagunçou o cabelo e a vida de alguém?
Quem nunca gritou de agonia...?
Todo homem já foi vento um dia, e, um dia, voltará a sê-lo.

01/01/2010

Início

Bom, 2010 chega pra mim como uma nova fase. Uma oportunidade pra fazer coisas novas. E nunca fiz um blog, então eis a oportunidade. Aqui, o inicio de postar as coisas que sempre escrevi, nunca com o intuito de publicar. É mais uma terapia egocêntrica. Era. Porque agora pretendo dividi-la e compartilhar com quem estiver disposto a ler. Também pretendo postar textos que gosto, sempre caracteristicamente agônicos, é bom avisar. Espero ser lido, e comentado, criticas/elogios são muito bem-vindos!
Abraços, e um Feliz 2010.